A Incerteza do Sol Nascente

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Incerteza do sol nascente

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Havia dias, como hoje, em que o pôr-do-sol pintava tudo em cores quentes e do terraço eu olhava-o seguro de que Deus o haveria de fazer nascer no dia seguinte, e depois ia dormir sem remorsos. Mas hoje sei menos do que quando era criança; olho o sol e não acredito que Deus tenha as coisas sob controlo. Pode muito bem acontecer que se esqueça de o fazer nascer amanhã. Hoje não irei dormir sem remorsos.

Ao menos se a voz quase humana de um violoncelo acordasse o calor das vozes esquecidas; ou o som da chuva na vidraça, tão próximo da música, restituísse a alma a esta casa deserta; ou faltando tudo o mais, se ao menos um eco, que tivesse ficado reverberando por entre estas paredes dissesse o meu nome e perguntasse “Já viestes?” só para eu ter a certeza que regressei a casa…

Espreito pelo vidro sujo da janela para o pátio onde falta a velha figueira. Como morreu a velha figueira? Sinto uma dor imensa por não me lembrar; como se tivesse perdido a oportunidade de lhe dizer algo de muito importante e íntimo; como se tivesse remorsos de não ter vertido uma única lágrima pela sua morte. Até parece que uma música parou repentinamente dentro de mim. Talvez por isso a laranjeira se recuse a dar laranjas, ressentida pela minha ingratidão. Não sabe que as comíamos apenas por amizade, dado que eram um pouco azedas “São muito boas para acompanhar o leitão” desculpava-a o meu avô, que a conhecia desde pequenina… e nós sorriamos de ternura.

Também devo ter sido infeliz aqui, mas não me lembro.
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Publicado por

Manuel Bastos

Um comentário a “A Incerteza do Sol Nascente

  1. Já tínhamos saudades dos seus posts. Mais um belo texto e uma grande fotografia.

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