Punho

Ela dobrou a esquina e apareceu de repente.

Do muro rasteiro da rua um pedinte ergueu a cabeça para olhá-la. Ia estender a mão no seu hábito humilde de súplica, mas parou o gesto.

Do seu ponto de vista, rente aos pés de quem passa, todas as pessoas são altas. Porém, aquelas pernas de uma elegância interminável elevavam ao inatingível o seu ponto de confluência, onde o sexo seria uma inevitabilidade.

Isso aumentou o seu sentimento de exclusão, e a mão ainda parada a meio do gesto tremeu um pouco.

Por um curtíssimo instante deixou de ser um pedinte.

Foi quando uma foice de raiva lhe cortou o olhar e a mão parada a meio do gesto se ergueu num punho cerrado.

Publicado por

Manuel Bastos