Cansaço

À hora em que o sol preguiçoso de Outono se servia da erva alta para desenhar longas pestanas de sombra sobre o pó da estrada de Vale de Cide, eu olhava os jornaleiros, cansado só de ver os corpos estamagados pelo martírio do farpão nas leivas barrentas dos vinhedos do Solão.

A minha doce lassidão perante a tortura.

Eles, talvez interpretando a inclinação da luz, pousavam o farpão. E a tarde morria.

Endireitavam a custo o dorso, com ambas as mãos apoiando as cruzes. Quase se ouviam os gonzos perros daquelas costas a ranger.

E espreguiçavam o olhar pela estrada fora, por onde se faria o caminho para o descanso.

Publicado por

Manuel Bastos