Eu sou daqui!
É esta a minha nacionalidade. Sou do largo do Sobreirinho.
Assim de repente, não sei o que é que não fiz neste largo, mas sei que foi o único lugar do mundo onde joguei futebol, porque o meu amigo Faria descobriu-me habilidades onde toda a gente só via tetraplegia futebolística.
Aqui promoveu encontros entre o Sobreirinho e o Robelho; entre o Sobreirinho e a Capela e finalmente entre o Sobreirinho e o resto do mundo. Não interessa que a equipa adversária tenha sido constituída pelos habituais jogadores do Robelho e da Capela, porque nós desafiámos toda a gente!
Eu não quero saber de misérias: nós éramos os melhores! Se não fosse o almoço jogávamos o dia inteiro. As mães, que nos chamavam, é que nos obrigavam a dividir o jogo em duas partes: quatro horas de manhã e quatro horas de tarde. Chamavam-nos sem saírem de casa, sem mesuras nem preconceitos: chamavam-nos e os nossos nomes vinham no vento.
Lembrar-se-há o Largo do Sobreirinho de nós? O vento pronunciará ainda as sílabas dos nossos nomes? Durante quanto tempo terá ecoado o som das nossas corridas por aquelas ruas?
A foto é uma montagem, claro. Lá vão os mesmos homens para o campo… faz de conta que vieram do futuro; estes putos nunca jogaram aqui… faz de conta que éramos nós; a bomba de arco de ferro, que mal fazia ali?… faz de conta que não a tiraram; e a pedra da sesta lá ao fundo… faz de conta que não acabou em brita para pavimentar a rua.
A memória, já se sabe, não respeita muito bem os factos, por vezes vinga-se do passado: faz de conta.
Acácio Simões
15 de Junho de 2005 às 18:10
É verdade: a porcaria do betão armado e o lucro rápido descaracterizaram , de tal maneira, o nosso País que até nas pequenas aldeias, por vezes, temos dificuldade em nos lembrar-mos de como elas eram.
Rui Secio (Secio@msn.com)
19 de Junho de 2005 às 15:52
Manuel;
Obrigado por nos lembrar tao bons momentos. Como tu e alguns (poucos) anos depois ouvi as mesmas vozes a chamarem por mim para ir almocar. Era hora do intervalo, o jogo recomecaria 2 horas depois no mesmo sitio.
Obrigado
Rui Secio
Manuel Bastos
22 de Junho de 2005 às 22:34
Rui Sécio…Rui Sécio… só podes ser o Ruizito quando eu era o Nelito, com quem joguei imensas vezes hokey-a-pé-com-troço-de-couve. Acertei?