Fui feliz nesta rua.
Até certa altura o mundo para mim não passava daqui.
Subitamente cresci e o mundo cresceu também, e cresceu tanto que me perdi nele e esqueci por completo a minha rua – quando regressei já não existia.
Porque a minha rua não era só o chão e as casas em volta.
A minha rua era o som circundante de uma sinfonia: nas madeiras o Ti F’lipe tanueiro, nos metais o Ti Zé ferreiro e nas cordas o Sr. Manuel da Leonarda violinista.
A minha rua era o cheiro da chuva no pó, a peça de fazenda à porta da loja, a minha avó e a minha bisavó à varanda.
Nessa altura o mundo era do tamanho da minha rua e todas as pessoas que eu conhecia eram ainda vivas.
Agora, encontrei esta fotografia velha e fui feliz na minha rua outra vez.
Acácio Simões
24 de Maio de 2005 às 0:26
acontece-nos a todos…