Este tema foi abundante e interessantemente desenvolvido no site “Aguim On-line” criado pelo autor deste blog, pelo que só venho aqui acrescentar o que então foi pedido: mais alguns dados sobre o famoso Lica:
O mais famoso embuçado, o Lica, ficou conhecido pela sua grande pujança e severidade. Parece que chegou a usar um cajado envolto em arame farpado. Eram-lhe atribuídas façanhas como a de ter ganho uma aposta, que consistiu em poder ficar com uma pipa de vinho se a conseguisse carregar sozinho para cima de um carro de bois; ou de ter um dia desatascado um carro de bois carregado, por a junta de bois não o ter conseguido, tendo levado à sua frente o carro os bois e tudo.
Foi morto a tiro, num acto de vingança, segundo reza a lenda, por alguém que com ele mantinha uma “reixa”, isto é, um contencioso. Depois de baleado no coração, garante a lenda, ainda correu sobre o agressor que teve que fugir para não ser apanhado. Este, depois de estar mais de uma semana escondido das autoridades, dentro de um tonel, onde a irmã lhe levava os alimentos às escondidas, partiu mais tarde para o Brasil para fugir à justiça.
Depois deste incidente esta prática sofreu um total declínio, muito especialmente depois da instalação da iluminação pública, embora tivesse havido tentativas de revivalismo. Nos últimos tempos, resumiu-se a algumas manifestações de xenofobia durante as festas anuais e de voirismo em relação aos namorados que tradicionalmente “conversavam” junto à entrada das habitações das raparigas, ou até de ajuste de contas, cobardemente perpetradas a coberto da noite.
As minhas fontes de informação foram as pessoas que conheci por estes nomes: O Sr. António Careca (O melhor jogador de damas que conheci), O Sr. Alexandre (O mais paciente adversário de damas que conheci) e o Sr. Pinto velho (O melhor professor de damas que conheci). Com eles não aprendi apenas a jogar damas como se vê.